Ontem estava no escritório a escrever o meu texto para este blog quando ouvi o apito das nossas UPS (para quem não conhece, umas baterias grandes para proteger o equipamento informático de picos ou quedas de corrente). Fui até ao quadro perceber se este tinha disparado, mas vi os disjuntores todos em cima, e o ecrã de cristais líquidos desligado — o corte era geral. Ainda assim, não lhe dei muita importância. Às vezes a luz ia abaixo, era uma questão de minutos até voltar a funcionar. Voltei ao computador e continuei a trabalhar, depois de desligar a baía de discos rígidos, que ligara para escolher uma boa imagem para o meu texto. Já ia com ele bem adiantado quando a Mari veio ter comigo e me disse que Portugal, Espanha e mais países estavam sem luz.
Depois de carregar um pouco o meu telemóvel na minha UPS, desligámos as duas e aos computadores para poupar bateria. Pusemos os telemóveis em modo de poupança, com o Wi-Fi e Bluetooth desligados. Ainda tinha dados da Internet, que usei para ler na app do Público que também havia problemas em países como a França, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido, e que as falhas estavam a afectar as comunicações. Ora, já todos sabemos que a luz foi restabelecida ao fim do dia de ontem (dia 28 de abril de 25), mas o exercício de 10 horas sem luz foi um bom abre-olhos para nos precavermos para situações futuras.
No nosso caso, a pressão da água nunca faltou, mas se tivesse faltado, não tínhamos forma de retirar água do poço sem electricidade. É algo a pensar, até para o caso de um dia termos o infortúnio de ter um incêndio à porta de casa e não termos luz para bombear água.
Tínhamos dois rádios a pilhas. Porém, nenhum nos valia por si só, visto que o que tinha pilhas não funcionava, o que funcionava não tinha pilhas, e as pilhas do primeiro não eram compatíveis com o segundo. A solução acabou por ser ligar o rádio que funcionava à UPS, uns minutos de cada vez, para sabermos o que se passava na TSF e Antena 1.
Tínhamos uma botija de gás por abrir, mas o fogão a gás antigo já tinha sido deitado fora. Acabámos por fazer as refeições na churrasqueira, o que incluiu também uma panela de arroz, que não ficou mau de todo. É sempre bom ter carvão de reserva, mas num aperto, também havia lenha seca.
Quanto a luz, não nos faltavam velas e fósforos, e a nossa lanterna de LED, que eu uso para ir fechar as galinhas à noite, estava em bom estado. As luzes decorativas de jardim, que funcionam a luz solar e bateria, foram uma solução boa. Quando anoiteceu iluminaram o nosso corredor de tal maneira que parecia uma pista de aeroporto.
Fica a nota de comprar um fogão a gás de reserva, e reservar mais do que uma botija cheia. De resto: água e mantimentos enlatados de vários tipos para três dias. Mais gelo no congelador, para manter os alimentos frios o máximo de tempo. Powerbanks carregados. Rádios operacionais. Dinheiro físico. Um isqueiro. Mais lanternas de LED e pilhas compatíveis.
Felizmente, o apagão não se prolongou para um segundo dia, um terceiro, e por aí fora. É um alívio grande não ter escalado para esse ponto, mas também é bom termos tido uma oportunidade de repensar as nossas precauções. Vale a pena olhar para as recomendações do kit de emergência europeu, de montarmos o nosso — e de esperar nunca ter de o usar.